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quinta-feira, 15 de maio de 2014

Cotidiano Face 6

Pois hoje vou lhes contar uma historinha que em primeira mão me despertou um lado MAU, depois ponderei e voltei a trilhar pelo caminho no qual me nego a pisar nos calos de que quer que seja (como não sou santo, nem santarrão, desde que não pisem nos meus calos).  Porque? Pelo desenrolar dos acontecimentos, pela presença irretocável do reconhecimento, nas reações e nas atitudes, vejam vocês...

                                                                                              *

Sábado passado, já em Porto Alegre, e voltando para casa, já na Av Bento Gonçalves, num trânsito lento quase parando, parado, e como sempre, enquanto dirijo mantenho um sentido aguçado de observação. Numas destas paradas, observo ao meu lado esquerdo, na pista de maior velocidade, um desses carrões da Hyundai, e na sua direção uma bela dama, loiríssima, diria beirando os trinta e lá vão. Meu carro está um pouco aquém da sua janela da frente, em minha visão ela esta de perfil, então ela aumenta o som do carro, e faz algo que via regra pertence ao mundo das crianças, e, eventualmente, do universo masculino (tal como já foi flagrado o técnico, e ex-jogador da futebol, da seleção alemã, em pleno jogo internacional), ou seja, definitivamente, coçou o cérebro, nariz adentro, com seu dedinho indicador, que poderia ser de uma pianista, longo e delgado. Na sequência, na santa paz da sua imaginária privacidade, limpou o dedinho com seus dentes, utilizando os lábios, aliás, carnudos, no ato final desta concepção...

Como diria meu sobrinho Matheus, caraca, cara...! Confesso, não resisti, como havia espaço para ir um pouco mais a frente com o carro, foi o que fiz, e devo ter colocado um sorrisinho muito Gardel e irônico na minha expressão, ao olhá-la descaradamente...pô, gente, é impagável visualizar a cena.  Quando ela me percebeu e, por consequência, soube o que eu vira...rapaz, tadinha, ai me deu pena e arrependimento, eu podia ter deixado passar...ah, somos humanos, e, as vezes, maus.

Ela empalideceu, cravou os olhos a frente e por sua sorte, sua fila andou, e bem mais rápida do que aquela em que eu estava, e ela pode desaparecer das minhas vistas... Mas seu rosto ficou gravadinho na minha mente, até porque ela é muito linda, e a beleza me é atrativo.

Diriam...ah, deixa estar, acabou. Nunca mais vou vê-la mesmo, mas fiquei me penalizando, poxa, tu poderias ter poupado a dama...que maldade!

Mas a vida apronta, e não é que o inusitado aconteceu.

 Domingo a tardinha, lá estou eu no aeroporto,  já diante do portão 23 da Azul, quanto me toca sentir a sensação de estar sendo observado. Evidente, meu olhar buscou os arredores, passando levemente pelas pessoas, ah, caramba, dentre estas ela me olha atentamente, sim, ELA! A dama.

Deixei meu olhar seguir adiante como se não tivesse percebido sua concentração e tomei uma decisão, poxa, seja gentil, faça de conta de que você não a reconheceu. E foi o que fiz.

Pessoal, dali pra frente, enquanto esperava, em muitos momentos eu tive absoluta convicção de que ela estava testando o meu reconhecimento (e convenhamos, estava muito elegante, chamava a atenção), pois andava pelo salão, sempre procurando se colocar no meu ângulo de visão, e, eu, firme, silente, sem demonstrar um mínimo da ironia cínica que queria explodir na minha face, na estampa de um sorriso largo.

Quando chamaram meu voo, ela não estava nele, seria um pouco demais, dei uma última cruzada de olhar pelo salão, e, então, deixei transparecer, eu a VI.

De imediato, pude sentir a sua tensão, seu rosto isolou-se em expectativa, num tangido de uma imolação emocional perceptível de acontecer, então, definitivamente, deixei meu olhar seguir impessoalmente em frente, ignorando-a.

Enquanto partia e entregava meu bilhete a funcionária da Azul, na percepção da minha visão periférica, pude sorrir para mim mesmo, pois estava deixando para trás alguém que havia respirado fundo, retomado suas cores e obtido a certeza de que eu não a reconhecera.

Confesso, o ato de sorrir para mim mesmo, se fez júbilo pois me permiti corroborar em atitude a salvaguarda de uma pequena maldade.

Em minha mente lhe desejei: - Vá em frente minha dama, maravilhe-nos com sua beleza e elegância...mas não coce mais o cérebro!

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Quem sou eu

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Sou Nedi Nelson, como profissional abraço a contabilidade e nesta me realiza a auditoria; como pessoa sempre sublimei ler e escrever, a poesia é lugar comum, hoje vivencio o romancear; como hobby e paixão descobri as orquídeas, o estudo, o cultivo e por fim o descortinar de suas florações..e eis que minha alma transcende o poetar. Viver o entreabrir de uma orquídia me é palco sensível para deixar fluir o poema. A idéia é criar três seções específicas, uma para partilhar a palavra escrita, seja por meio de poemas, contos ou romance, estejam publicados ou não, que venham a ser publicados ou não; outra para cultuar, via fotografias e textos, as minhas orquídeas; e outra para falar de minhas viagens, via fotografias e textos, seja quando a trabalho nos contextos da auditoria, em minhas folgas, seja especificamente a lazer .

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