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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

COTIDIANO FACE 36

Cotidiano Face 36

Hoje, neste Cotidiano vou lhes contar uma história, na verdade trata-se de uma experiência relativamente macabra porque passei.  Sem exageros todavia, porque estou bem e até mais esperto e lúcido, pois sobrevivi, não é mesmo, afinal estou aqui lhes contando a história...

A foto abaixo é do cabideiro, só para dar uma idéia do quadro numa mente meio adormecida...

                                                                     *

Volto de viagem, quando chego em casa já é quase uma da manhã, e, confesso, estou absolutamente me sentindo esgotado fisicamente, pois além da viagem desgastante, vim de BH, encarando conexões demoradas, a semana foi bastante operosa.
Como sempre sou recebido com muita alegria pelos meus cães, mas desta vez a festa é bem pequena, logo me recolho e vou buscar a tão bem vinda cama caseira.
Jogo a mala num canto, a bolsa do note acima da escrivania, já no meu quarto, roupas são retiradas as pressas, um pijama buscado aleatoriamente, vestido quase sem percepção do que fazia, sem atentar a nadica de nada e caminha...antes mesmo de contar a terceira divã imaginária fui abençoado pelo sonífero apaziguador do sono.

Como pude verificar depois, ai pelas quatro da madrugada, fui acordado de repente, pelo alarido nervoso dos meus cães, algo ou alguém os estava  deixando muito irritados.
Em meu quarto, que fica no segundo piso da casa, existem duas portas, uma de persiana, toda fechada e outra com duas abas, com vidros, que dão para uma cobertura descoberta. Como a mesma é protegida por grades de ferro de boa espessura e muito resistentes, via de regra é desta forma que as mantenho. Percebem que a noite, de dentro do quarto, permaneço numa penumbra bem escura, mas com um visor bem iluminado para a parte de fora do imóvel. Seja pelo luar ou por luzes de lâmpadas que ficam acesas a noite, lá no pátio, aos fundos.

Casualmente no instante em que despertei eu estava dormindo sobre o ombro direito, portanto de frente para a porta e sua luminosidade...abri meus olhos e foi como se uma alucinação me paralisasse os sentidos, estanquei, silente e pasmo, sem acreditar no que via.

Entre minha cama e a luminosidade externa, a beira dela, um vulto de médio porte humano, com um chapéu na cabeça, parecendo estar meio encurvado, me observava em silêncio. Estático.

E os cães lá embaixo, latindo nervosamente...

Minha primeira reação foi sentir meu coração explodir em batidas frementes e descompassadas, em meu corpo uma rigidez tomou conta e me prendeu sob as algemas do medo e de um horror que eu jamais havia concebido pudesse sentir em minha vida. Senti-me absolutamente refém da situação. Pois o vulto permanecia ali, ainda estático, como se dono inquestionável da situação.

Eu confesso, não conseguia me mexer, apenas encarava o vulto e meu coração, bum, bum, bum, bum, bum...

Sou um cara relativamente forte, de posse de boa agilidade, mas não consegui atinar pensar com clareza, penso eu, durante um minuto, mais ou menos, e, olha, existem momentos, como comprovei,  que isso é tempo demais... 
 E o vulto ali, ainda me encarando!

Então, numa lentidão pasma, minha mente aflorou e me informou:

- Hei, tu tens uma pistola ai ao lado, dependurada no abajur ao lado da cama.

Ao entender a mensagem, muito vagarosamente, comecei a distender meu braço esquerdo que estava sob as coberta, em direção a pistola. Põe lentamente nisso...

Ela fica num coldre de se usar abaixo do braço, logo é destravar a presilha que a prende e ela cai na sua mão, foi o que fiz quando consegui empalmá-la. De presto a arma caiu na minha mão, empunhá-la foi questão de costume, rápido.

Então, tudo aconteceu muito rápido, dei um salto para os pés da cama, tendo jogado as cobertas na direção do vulto, que pareceu sentir a ação, pois se moveu, cai meio ajoelhado no piso do quarto, com a pistola já sendo engatilhada e mirando o peito que parecia se avolumar a minha frente.

Primeiro instante, fiquei ali, mira em riste, possesso.
Segundo instante, uma imagem surreal acabara de se formar a minha frente, e em mim uma risada nervosa se transformou numa gargalhada tresloucada.

Eu quase acabara de atirar no meu cabideiro de chão, pior, quase tivera um infarto ou me borrara por causa de um cabideiro. Um cabideiro de três andares, tomado de mantas e cintas nos dois cabides inferiores e laterais, com chapéus nos superiores laterais e no da  parte alta central.  Imaginem a forma, imaginem o vulto contra a luz exterior num quarto as escuras.

Culpada, minha secretaria que, na limpeza de fim de semana, o trocara de lugar, tirando-o do seu lugar usual, junto a parede que fica na continuidade da porta envidraçada, e, portanto, longe de formar imagens surreais. E eu não o percebera.

Fica a lição, ou o reaprendizado, somos produto de medos ancestrais,medulares, em nossa imaginação, de um nada podemos criar horrores.

Eis uma história em que a imaginação alterou uma realidade trivial, na percepção de uma mente embebida de sono, ou, seria, apenas imaginação de uma mente criativa.

---vai saber!

Erechim/RS, 13 de agosto de 2014.



Quem sou eu

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Sou Nedi Nelson, como profissional abraço a contabilidade e nesta me realiza a auditoria; como pessoa sempre sublimei ler e escrever, a poesia é lugar comum, hoje vivencio o romancear; como hobby e paixão descobri as orquídeas, o estudo, o cultivo e por fim o descortinar de suas florações..e eis que minha alma transcende o poetar. Viver o entreabrir de uma orquídia me é palco sensível para deixar fluir o poema. A idéia é criar três seções específicas, uma para partilhar a palavra escrita, seja por meio de poemas, contos ou romance, estejam publicados ou não, que venham a ser publicados ou não; outra para cultuar, via fotografias e textos, as minhas orquídeas; e outra para falar de minhas viagens, via fotografias e textos, seja quando a trabalho nos contextos da auditoria, em minhas folgas, seja especificamente a lazer .

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