E aqui estou eu, acomodado junto
a uma cafeteria no aeroporto de Guarulhos, aguardando meu voo pela Azul...a uns
trinta minutos enquanto degustava um expresso daqueles longos, como é de praxe,
meu olhar curiosamente perscruta os arredores. E observo...
Passados alguns instantes uma
jovem senhora, diria beirando os quarentinha, senta-se numa das cadeiras junto a
mesa, na minha frente, respira fundo e fica na expectativa por uns momentos,
talvez, pensando no que fazer.
Logo abre um Tablet e começa se
divertir, me parece estar deslizando em postagens do Face. Dá para perceber uma
alegria luminosa nos seus olhos, é feliz e seu aspecto transmite esta condição.
Me perguntariam, é linda? Eu diria, mais que linda, é interessantemente bela,
transparece segurança e tranquilidade.
As suas costas existe uma outra
mesa até então desocupada, mas neste momento começa a ser ocupada por um jovem
executivo, tal como ela, deve estar na casa dos trinta e cinco a quarenta anos.
Ao
mesmo tempo em que acomoda seus pertences na cadeira ao lado da que vai ocupar,
dirige-se a atendente da cafeteria que aguardava por ali para nos atender, em
voz clara e bom tom:
- Moça...por favor.
Que choque levou a mulher a minha
frente, se endireitou na cadeira, por segundos ereta, estática, sublimou algum
reconhecimento em sua mente, pude acompanhar o nascimento de um amplo sorriso
nos seus lábios, numa evidente demonstração de satisfação.
Lentamente começou a girar a cabeça para olhar trás, ao
terminar o giro, observou e viu um homem de cabeça baixa, ajeitando alguma
coisa.
Foi
num pulo que levantou, girou e quase gritou: Marcelo!
Bom,
o cidadão arregalou os olhos, deu um passo para trás, e observou, eu diria, um
tanto preocupado, mas assim que reconheceu a origem do chamado, e, de quem
partira, olha,deve ter passado muita emoção para a mulher, pois seu
rosto resplandeceu simpatia, numa inequívoca alegria, e disse: Marisa!
Os
dois quase que pularam um nos braços do outro, silentes, permaneceram num abraço apertado, de sintonia. Aos poucos
se afastaram, seus olhares como que prisioneiros de uma mesma urgência se
rendiam a uma necessidade de consentimento. Suas palavras identificaram suas
idênticas realidades:
- Há quanto tempo...que saudade!
Bom,
deste momento em diante eles perceberam que estavam chamando a atenção, se
recolheram a um palavrear baixinho, onde mãos, sentidos e doações não sabiam
onde se colocar.
E
eu, ali, totalmente discreto, vocês imaginam, ainda pude identificar algumas
palavras, do tipo: o que, estás indo pra Recife, maravilha, eu também. Uma
semana, ótimo, eu também.
Pra
terminar, não demorou muito e chamaram o voo em que viajariam, lá se foram, não
tive nenhuma dúvida, na sensualidade irradiada, nesta semana vindoura Recife
vai testemunhar o saciar de fomes, dois
famintos uniram suas carências, estão se dando o direito de conceber uma das
facetas mais humanas do nosso viver.
E
não é que minha mente meio que produziu analogias, seriam reais as minhas
percepções, ou serão mensagens incontestes de insondáveis desejos...e, eis poesia, ou não!
*
Quando você degustou saborosamente uma fruta,
Pode chamá-la de sabor,
E não tenha pudores ao reencontrá-la,
Estando, alí, alimente-se,
Condense sua fome, coma da fruta até o caroço!
É com sede que devemos saciar a fome,
É na fome que saciamos a sede...
Como na leitura de um oráculo,
Entenda o sentido não escrito,
Conjugue o verbo existir no presente...existo!
Temporiza...pressinto!
Quem me dera, ah...estou faminto!
O coração é a morada do sentimento,
Mas é a mente que o aquece permitido,
Ou o soterra desvalido.
Palavras que permeiam sem sentidos...sentidos têem!
Guarulhos, 18:45 horas, 22/08/2013